Fiquei meses sem nem mesmo entrar aqui no blog. Por um monte de motivos, alguns já descritos no texto anterior, fiquei sem vontade de escrever, e o pior, até mesmo de ler textos antigos. A minha decepção com a política local me levou a uma reflexão profunda, de que uma luta estava sendo vencida pelas mãos daqueles que só pensam no seu próprio umbigo, e não na população ou na cidade. Antes que venham com pedras ou elogios baratos e aproveitadores para denegrir a imagem de A ou B, não estou falando dessa administração, mas sim do quadro político que vemos na cidade como um todo, com os movimentos que vemos, com a falta de compromisso com essa classe já desacreditada. Há muito tempo. Mas eis que me surge um motivo para voltar aqui e escrever de novo.
Durante um ano, pessoas (algumas como eu, que não são ligadas a nenhum grupo ou partido político, portanto, sem interesse a não ser avançar com uma política cultural séria) discutiram a fundo um novo modelo de leis para incentivo à cultura local. Nos debruçamos em leis de outras cidades, pegamos modelos, reunimos e formulamos algo próximo à uma política séria para a cultura. Foi formulado uma Lei, denominada Zacarias, que foi enviada para a Câmara e depois para a prefeitura.
E depois disso tudo, ficamos sabendo, agora, que a prefeitura retrocedeu em tudo que foi conversado e formulado. E o pior. Retrocedeu mais do que a lei que já existia e não funcionava anteriormente. A nova legislação definia que não só o ISSQN poderia ser usado pela Lei, mas também o IPTU e a dívida ativa, em que os três poderiam ser abatidos caso a empresa ou cidadão "patrocinasse" um projeto aprovado através da lei. Neste quesito, a administração surpreendeu: vetou praticamente tudo, e o que vai vai valer para conseguirmos algum apoio será apenas a dívida ativa. Nem mesmo o ISSQN, que antes figurava na lei anterior, foi poupado.
Junto, discutimos que deveria existir um edital para o Fundo Municipal de Cultural, que iria premiar projetos bem estruturados e comprovadamente traria retorno para a população. Hoje, o Fundo Municipal é distribuído através de subvenções sociais, e sabemos que existem casos de entidades que recebem até R$20 mil sem ter nenhum retorno social. Há aberrações que nos arrepia. Pensamos então que deveria ser lançado um edital e aprovados os projetos, para contemplar quem realmente dá retorno para a cidade. Para não prejudicar os mais "fracos" - frase usada por alguns - , pensamos em uma redução anual, que dos 100% voltado para subvenção hoje, até 2015, se não me engano, esse percentual cairia para algo em torno de 30% de todo o valor distribuído pelo Fundo. Pois bem. A prefeitura propôs um teto de 35% do total do Fundo voltado para os editais, a forma comprovadamente mais democrática de se dividir esse bolo do Fundo. Ou seja, entre linhas: o dinheiro do Fundo Municipal de Cultura vai continuar sendo usado como subvenção para "comprar" algumas entidades, e formar o tradicional curralzinho eleitoral. Terrível.
É preciso urgentemente que os artistas que querem realmente levantar uma discussão séria sobre a política cultural na cidade unir contra esse disparate total. É preciso mostrar que cultura não é gasto, mas sim investimento, principalmente social. E que ainda gera empregos, gira dinheiro, e além disso, e talvez mais importante: tira a sociedade desse marasmo e dessa pasmaceira que vive.
Mas acho que não é isso que nossos mandatários querem. Certo?
Obs.: Aqui não estou criticando a atuação do atual secretário de cultura. Não me venham nos comentários denegrir a imagem de ninguém, pois isso não será aceito. Se formos olhar para um passado recente, Fred foi, sem dúvida, o secretário mais acessível e que pensa realmente na cultura, em comparação a outros que passaram por ali.
ENTREVISTA COM A PROFESSORA MAIRY
Há 2 semanas
6 comentários:
Viva! Bom retorno, Marcão! Pena que com uma matéria tão lastimável... Esse processo sim teve uma participação popular autêntica e, sobretudo, espontânea. deu no que deu. Reponho aqui a indagação que fiz em meu blog: "É de se entender que a participação só interessa quando atende aos interesses do governo?". Lamentável! Abração!
Enquanto a Educação e a Cultura não forem pilares para o crescimento humano, enquanto as pessoas que escolhemos para nos representar não acreditarem na oportunidade da evolução dos seres... Pouca coisa mudará. Egoisticamente, comungamos no silêncio o que os gestores oferecem para sociedade em geral... Para refletir: Será que meu sofá azul (zona de conforto) se orgulha da minha postura complacente... Tenho certeza que não :( Triste isto!!!
Bom retorno amigo. Espero que a frustração não sirva de parâmetro para que você pare de utilizar uma das ferramentas mais divinas que possui...
Cara, seja bem vindo a minha decepção com a expressão "Política Cultural em Sete Lagoas" Foi justamente por isso que vocês estão passando, digo vocês que participaram do processo de revisão da lei, é que resolvi procurar outros meios para lutar. Não paro nunca. Recentemente fui taxado,em uma reunião, de denegrir a imagem das pessoas que estão no poder, só porque falei de algumas situações que não estavam funcionando. Bom, pensei é melhor eu ficar calado pois,não sou assim e tudo que falo é na tentativa de ajudar de alguma forma, mesmo quando sobro na falácia. Gato acuado arranha os outros. Carnaval passou...
Estive na Casa da Cultura com um grupo de teatro a uma semana atrás, apresentando,choveu e logo em seguida goteira no teto do auditório, goteira na plateia, alagamento no acesso aos banheiros e por aí vai. Então pensei profundamente, isso não é culpa deste ou daquele secretário que passou. Pela primeira vez eu não procurei culpados porque me senti também culpado daquilo, afinal sou usuário da Casa da Cultura e é, bom ou ruin, o único lugar que nos temos para apresentar. Frustrei e calei... Como vamos nos sustentar da cadeia produtiva, intensa, da cultura, se não conseguimos cuidar da casa mãe que nos colocou no mundo? Taí a pergunta. A lei de incentivo, no primeiro modelo, sofreu várias tentativas de mudanças, quando o Roni era do CMC, quando eu era e outros. Inclusive teve uma vez que os vereadores assinaram em conjunto a alteração da lei e logo em seguida, em reunião fechada, votaram contra, 14 votos contra e 2 a favor. Não infartei porque não era meu dia... A decepção foi muito grande, mas, quem sabe o grupo pensador da cultura que atua neste cenário contemporâneo consiga. Nós temos um vereador da cultura... Tá na hora de darmos um passo além sim e de realmente promovermos uma defesa de mercado em torno das nossas profissões que de lá, do pensamento e da alma coletiva em relação ao amor com a nossa cidade e tudo que a envolve.
Amigo conte comigo...
Sds.
Paulinho do Boi
Novamente essa novela, meu caro Marcos! Pouco antes da publicação do meu primeiro livro fizemos e passamos pelo mesmo processo. Na época,eu participei de um grupo que reunia, Jane,Roni Raggi, Taís Garone, Márcio, Paulinho e me deparei com questões culturais e sociais muito maiores do que as questões políticas. Vi que a luta não era contra uma gestão ou contra o sistema, mas contra nossas posições e nossos egoísmos. Por isso me lancei por conta própria e por isso me afastei dos palcos de cá. A primeira batalha será contra a estrutura artística sete-lagoana. Se precisares, estou aqui. E vamos lá mais uma vez.
Caro Marcão,
Que bom estar de volta com seus textos sempre atuais e reflexivos. Quanto à cultura local, e nem todos sabem disso, mas é uma área da qual gosto e acho imprescindível para a cidade,só tenho a lamentar.Há anos os artistas e gestores culturais lutam por incentivo à cultura na cidade. Sete Lagoas está anos luz atrás de cidades de porte bem menor quando o assunto é o fomento e o apoio à cultura; não como uma turma de coitadinhos que precisam de uma "ajudinha" para fazer arte, mas como atuação do município com políticas públicas que, de fato, incentive, fomente e patrocine ( com retorno ) as mais diversas práticas culturais. O Conselho Municipal de Cultura, sempre tão forte e atuante, está mudo e calado diante de aberrações como esta. Triste. Lembro-me da luta de Roni e Paulinho, sempre dispostos a gritar e denunciar as mazelas dos gestores culturais municipais. Que toda essa luta não fique em vão. Abraços. Lyra.
Uma pena.
Eu estou conhecendo Sete Lagoas, me encantando com a produção cultural; dos fotógrafos maravilhosos, pintores espetaculares, agentes culturais atuantes, uma sociedade que grita e uma cidade que chora. tão linda e tão mal tratada. Então quando eu vejo blogs como este e vários outros que protestam, eu fico muito feliz.
Grande abraço.
Elisiana Alves
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